Empreender no Brasil: um ato de fé

Sou empresário, como milhões de outros brasileiros, que acordam cedo diariamente, apostando na força da livre-iniciativa. Pessoas que creem que o empreendedorismo é um caminho possível, e necessário, para gerar empregos, renda e desenvolvimento. Acreditamos, ainda, que o setor privado é um vetor de transformação social, capaz de mover a economia e sustentar o país com inovação, coragem e trabalho. Mas confesso: às vezes, o entusiasmo esbarra na dura realidade. Empreender no Brasil parece um ato de resistência.

            A sanha arrecadatória do Estado é insaciável. Impostos, taxas, contribuições e burocracias se multiplicam, enquanto o retorno em políticas públicas é tímido, quando não inexistente. Olhamos ao redor e vemos estradas esburacadas, hospitais lotados, escolas precárias, falta de segurança e uma máquina pública inchada, sustentada com o suor de quem trabalha, arrisca e produz. A corrupção e o desperdício no setor público pragas que parecem sem solução, castigando quem mais demanda por recursos nas áreas sociais. Também o setor privado carrega sua cota de pecados e desvios de caráter, infelizmente. Nossa imagem, em alguns momentos, carrega a pecha de sonegadores e selvagens por conta de uma minoria ilícita ou retrógrada. A exceção, porém, não compromete a média.

            O empresário brasileiro é, no fundo, um otimista incurável. Mesmo diante de tantos obstáculos, ele insiste, investe, gera oportunidades, sonha com um país que reconheça o valor de quem empreende e que trate a iniciativa privada não como vilã, mas como parceira do desenvolvimento.

É desanimador ver o Estado crescer mais do que a economia. É frustrante perceber que os três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — parecem cada vez mais distantes da realidade de quem paga a conta. Mas, ainda assim, seguimos, porque empreender, no Brasil, é mais do que abrir um negócio, é um ato de fé.

E talvez seja essa fé, teimosa e resiliente, que mantenha o Brasil de pé.

Léo Mauro Xavier Filho