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Quando o poste faz xixi no cachorro

  • Foto do escritor: Leo Xavier
    Leo Xavier
  • há 11 minutos
  • 2 min de leitura

Não acreditei quando ouvi o Presidente da República afirmar que “os traficantes são vítimas dos usuários de drogas”. Confesso, por um instante, achei que fosse uma piada de mau gosto, dessas que circulam em redes sociais. Mas, para meu espanto e indignação, não era. A fala realmente aconteceu e foi dita, em público, pela maior autoridade política do país, com a serenidade de quem acredita no próprio absurdo. É verdade que mais tarde ele se corrigiu, talvez porque foi alertado pelos seus assessores do alcance do disparate proferido. O estrago, porém, estava feito. Na sabedoria popular diz-se que falar sem pensar é como atirar sem apontar.

            Há momentos em que o país parece andar de cabeça para baixo ou, novamente recorrendo aos ditos do povo, é tal como o poste fazendo xixi no cachorro. Quando o discurso político inverte papéis e apaga fronteiras morais, o certo vira errado, o errado vira justificável e o crime ganha status de vítima. É o relativismo travestido de sensibilidade social. Não se trata de negar a complexidade do problema das drogas, nem de ignorar o papel trágico da dependência química. Contudo, colocar o traficante no pedestal de vítima é um desrespeito com quem vive o drama do vício, com as famílias destruídas e com os que arriscam a vida tentando conter o tráfico que mata e escraviza. É confundir o algoz com o refém, a causa com a consequência.

            Um país com líderes políticos que trocam responsabilidades por discursos de ocasião retrocede, deseduca e normaliza o desvario. O Estado que deveria ser o guardião da lei e da ordem torna-se cúmplice simbólico da desordem. E quando isso acontece, a fronteira entre a justiça e o caos, se dissolve. O Brasil precisa recuperar o senso de proporção, de hierarquia moral, de responsabilidade social e política. Porque quando o crime passa a ser tratado como vítima e a vítima como culpada, o que está em jogo não é apenas a segurança pública, é a própria sanidade de uma nação. E aos que discursam, sugiro que recorram a uma célebre frase de Jô Soares, repetida com frequência: “é melhor pensar sem falar do que falar sem pensar”.


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